segunda-feira, 7 de março de 2011

Livro: A fugitiva O diário de uma menina de rua (Evelyn Lau)

                                                          Epílogo da edição de 1989                                                                            
      
No começo fiquei confusa com a ideia de redigir um epílogo que resumisse o que aconteceu desde que abandonei as ruas.Fiquei dividida entre falar o que o pessoal queria ouvir -- abandonei as ruas,as drogas,a vida é maravilhosa -- e contar a verdade.Então li o meu livro inteiro,percebi o esforço que tinha feito para manter a honestidade em cada capítulo e senti que devia isso a mim mesma e a quem lesse,sabendo que não poderia escrever uma conclusão que decepcionasse.Várias questões levantadas no decorrer do ano passado ainda me afligem.Uma delas é a imagem que devo ter criado como "a ex-prostituta que virou escritora".Como isso afetará as outras coisas que escreverei no futuro e a pessoa que me tornarei daqui em diante?  Além disso,há o fato de muitas pessoas parecerem ter ficado ofendidas por eu não parecer feliz o tempo todo,agora que o meu ''passado" ficou para trás e que o livro está sendo publicado enquanto ainda sou uma adolescente.Mas não posso dar uma de santa,sorrir e dizer que tudo está perfeito agora.Nunca desejei que este livro levasse Evelyn Lau a ser considerada "a menina de rua redimida".Tenho a impressão de que muita gente achará esse adjetivo satisfatório,mas não é o que eu sou.Ás vezes,também,este diário está tão ligado a mim que sinto como se minha vida tivesse sido comprada com ele.Não há respostas fáceis,mas espero que com a sua publicação pelo menos ninguém mais me meça de alto a baixo e pergunte como é ser uma prostituta.Porém,sei que talvez eu consiga muito mais do que isso.Há um ano deixei de rodar a bolsinha.A vida agora parece tão diferente daquela que descrevo no livro -- existem padrões,novas regras.Mas de certa forma parece a mesma coisa; as pessoas não são tão diferentes de um lugar para outro.Não se pode nunca comparar uma experiencia com a outra e dizer se uma é melhor ou pior; aprende-se com tudo o que acontece,com as pessoas que se escolhem para sua companhia.Mas experiencia é como conhecimento; não se pode apagar o que se viveu ou aprendeu.Este livro tirou de muito de mim,muitas vezes até mais do que eu poderia dar.Como menor,envolvi-me em batalhas legais com o governo sobre sua publicação.Voltei a usar calmantes por conta disso.Minha luta com as drogas não acabou,embora o problema esteja muito sob controle do que antes.Ás vezes,os dois anos narrados aqui parecem tão distantes da minha vida que beiram a ficção.Outras vezes,vejo como aprendi com eles,o quanto me moldaram para ser o que sou hoje.Este livro começou como um manuscrito de 900 páginas e foi reduzido para aproximadamente um terço disso -- estou feliz com o produto final,embora o processo de le-lo repetidamente,redatilografá-lo,melhorá-lo,tenha sido como reviver as experiencias passadas.Havia dias em que não queria que fosse publicado,me perguntando se não estava atraindo um certo tipo de atenção indesejada.Mas fiz o melhor que pude e acredito no livro; o resto não tem tanta importancia.Um dos maiores choques para mim foi perceber que,ao querer ser uma escritora de sucesso,na verdade eu queria o amor e a aceitação que decorrem disso.Durante muito tempo pensei que,quando conseguisse publicar o livro,seria como adquirir uma nova família,o que no fundo eu queria.Esse modo de pensar tem uma semelhança impressionante com a razão por que fui as ruas -- para me sentir aceita,para encontrar um lar.Ambas as ideias são ilusões.Este ano que passou foi intrigante porque aquele meu sonho se tornou realidade e algumas pessoas me apoiaram muito durante os consequentes e inevitáveis traumas.Muitos outros,porém,não conseguiram lidar com o fato de que eu não estava mais no papel de vítima,que estava vivendo totalmente  do que escrevia e trabalhando muito duro para isso.Mas que não podia voltar atrás,não por estar com medo,nem mesmo porque o meu maior desejo -- publicar um livro-- se tornou realidade,mas porque percebi que as coisas nunca chegam a ser o que se espera.Não sei o que farei daqui em diante.Acredito que as pessoas esperam mais livros,mas há outras possibilidades.No ano passado,completei um curso de redação de scripts e publiquei uma boa quantidade de ficção e poesia.Gostaria também de me envolver mais com o jornalismo,de escrever revistas ou talvez fazer alguma coisa que não tenha nada a ver com a arte de escrever.Pode ser que daqui a alguns anos eu queira estudar numa universidade.O que não aceito é que me presssionem por aquilo que querem para mim; já tentei isso e não se pode sentir satisfeito dessa maneira.Esta obra reflete uma fase da minha vida e espero que seja uma experiencia importante para quem o ler.Acho que,no final das contas,somos o que temos que ser; não podemos fingir.Ás vezes simplesmente temos de continuar vivendo,e isso é o que pretendo fazer.


                                                           Bella Cullen

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